Balanço dos seis meses da intervenção mostra poucas metas realizadas e aumento da violência policial 18/08/2018

O Observatório da Intervenção apresentou um balanço dos seis meses de vigência da medida federal no Rio de Janeiro na quinta-feira, 16 de agosto, numa coletiva para a imprensa realizada na Universidade Candido Mendes. No evento, o Observatório distribuiu um infográfico com os principais dados do período, e uma publicação que contou com a participação de 46 contribuições de jornalistas, ativistas, pesquisadores, empresários, artistas e líderes religiosos, além de militares e policiais. O encontro teve a presença dos conselheiros do Observatório Itamar Silva, Wesley Teixeira, Charles Peixoto e Filipe dos Anjos, além  de representantes de organizações como Fogo Cruzado, Anistia Internacional e Iser. O vídeo da apresentação pode ser assistido na página do Observatório no Facebook.

Com o objetivo de apresentar um painel diversificado das percepções sobre a intervenção, o relatório traz depoimentos favoráveis à medida, como o da jornalista Monica Waldvogel, da advogada Elena Landau e do empresário Walter de Mattos Junior. No entanto, a maioria é crítica da ação, como o do apresentador Pedro Bial, o especialista Luiz Eduardo Soares e os próprios militares. Protegidos pelo anonimato, eles dizem se sentir usados, descrevem a intervenção como uma “manobra política” e lamentam ter sido convertidos em “alvos” de grupos criminosos.

O documento também traz artigos da equipe do Observatório. O coordenador de dados Pablo Nunes mostra o aumento das mortes decorrentes de ação policial na Baixada e dos roubos de carga no interior. Walkyria Zambrzycki Dutra analisa o Plano Estratégico, mostrando que, a quatro meses do fim da intervenção, compromissos como a reestruturação dos batalhões foram apenas iniciados. “Descobrimos que, das 66 ações estipuladas no Plano Estratégico, apenas 11 foram entregues”, escreve. Os pesquisadores convidados Alexandre Ciconello e Paolo de Renzio alertam para a falta de transparência no uso da verba federal de R$ 1,2 bilhão. Silvia Ramos faz um balanço do período e um texto propositivo, em que elenca medidas práticas que podem ser implementadas para reduzir a violência no Rio de Janeiro.

No período, o Observatório contabilizou 372 operações, que mobilizaram 172 mil agentes, para apreender apenas 373 armas. Segundo o ISP, foram registrados 2.617 homicídios, 736 pessoas mortas pela polícia e 99.571 roubos. “A se manter esse ritmo, podemos chegar ao fim do ano com 1.600 pessoas mortas pela polícia. Até hoje, o recorde era de 1.330. Diz muito sobre uma política de segurança quando a polícia ultrapassa o seu próprio padrão de uso excessivo da força, que já era muito alto”, comentou a coordenadora do Observatório, Silvia Ramos.

Para Silvia, passados seis meses da intervenção, é possível afirmar que as ações do Gabinete da Intervenção Federal (GIF) configuram um modelo, baseado no poder bélico e no uso de muitos agentes, que entretanto tem se mostrado ineficiente para resolver os dilemas da segurança pública no Rio. A recente criação de um grupo de Inteligência pelo GIF foi citada como positiva. “Desde o início esperávamos que houvesse inteligência nesse processo. Mas vamos lembrar que, em todo mundo, quem entende de inteligência em segurança pública é a polícia”. A coordenadora do Observatório acredita que a criação deste grupo é um reconhecimento de que “o modelo está fracassando principalmente porque se apostou todos os recursos e toda a tropa em operações de guerra e nada, ou quase nada, em inteligência”.